quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Visão do mundo

Certa vez, dois homens seriamente doentes estavam numa mesma enfermaria de um hospital. O cômodo era pequeno e nele havia uma janela que dava para o mundo. Um deles tinha, como parte do seu tratamento, permissão para sentar-se na cama por uma hora durante as tardes (algo a ver com a drenagem de fluido dos seus pulmões). Sua cama ficava perto da janela. O outro, contudo, tinha de passar todo o tempo deitado de barriga para cima.

Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado em posição sentada, ele passava o tempo descrevendo o que via lá fora. A janela aparentemente dava para um parque onde havia um lago. Havia patos e cisnes no lago, e as crianças iam jogar-lhes pão e colocar na água barcos de brinquedo. Jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores, e havia flores, gramados e jogos de bola, e ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.

O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos os minutos. Ouviu sobre como uma criança caiu no lago, e sobre como as garotas estavam bonitas em seus vestidos de verão.

As descrições do seu amigo faziam-no sentir-se como se estivesse vendo o que estava acontecendo lá fora.

Então, um dia, ocorreu-lhe um pensamento: por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo?  Por que ele não poderia ter essa chance? Sentiu-se envergonhado, mas quanto mais tentava não pensar assim, mais queria uma mudança. Faria qualquer coisa.

Numa noite, quando olhava para o teto, o outro homem subitamente acordou tossindo e sufocado, suas mãos procurando o botão que faria a enfermeira vir atendê-lo. Mas ele o observou sem se mover, mesmo quando o som da respiração parou.

De manhã, a enfermeira encontrou o outro homem morto, e silenciosamente levou embora o seu corpo.

Logo que pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser colocado na cama perto da janela. Então o colocaram lá, aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortável.

No momento em que saíram do quarto, ele se apoiou o corpo sobre um cotovelo, com dificuldades, sentindo muita dor, e olhou para fora da janela.

Viu apenas um muro...

(Autor desconhecido por mim)

(28.10.2020)

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2 comentários:

  1. isso mostra de modo muito preocupante, ao menos a mim, a nossa pequenez.... o outro tão grandioso, CONSTRUÍA um mundo feliz, colorido, confortante e compartilhava....

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    1. Realmente, nós precisamos apreender a construir nosso próprio mundo, partindo daquilo que temos. Tudo o que se nos apresenta pode ser utilizado para construir algo melhor.

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