Quando
a gente chega a este mundo, através do nascimento, inicia-se uma caminhada cuja
distância não é previamente revelada. Assim, a pessoa começa a caminhar,
conhecer novas coisas, novos caminhos, novas pessoas... e segue caminhando. Até
onde caminhará? Na verdade, ninguém sabe. É a maior das incógnitas.
Existem
pessoas que sofrem por não saber até onde poderão chegar e até quando poderão
tentar chegar. Para alguns, isso se torna um verdadeiro martírio. Um espinho no
pé, que incomoda durante toda a sua caminhada.
Muitos
abandonam o barco (todos os barcos) a partir de determinada idade por que
entendem que o fim está próximo. Outros relutam a começar por que entendem que
são muito jovens para tal. Outros aproveitam todos os dias e seguem adiante até
que a vida lhes permita fazê-lo.
Difícil
saber quem está certo. Ou mesmo se alguém está certo. Ou se determinadas
perguntas ou decisões são decorrentes do medo de enfrentar uma realidade
patente (o fim de tudo!), mesmo sabendo que o desfecho não depende de cada um.
No
final das contas surgem outras perguntas ainda mais pertinentes?
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Quando começa a velhice?
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Quando começa a vida adulta?
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Quando começa ou termina a juventude?
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Qual o limite entre cada um desses degraus, ou seja, onde termina uma idade e
começa outra? A idade cronológica é suficiente para essa decisão?
E
outra questão intrigante: será que as respostas estão mesmo relacionadas com a
idade cronológica da pessoa? E ainda: quem define a idade, a cronologia ou a
escolha da própria pessoa? Em síntese: Até que ponto a idade cronológica
influencia, ou determina, ou define as decisões de uma pessoa?
Diz-se
que o ideal é que as pessoas atuem de acordo com sua idade cronológica. É o que
as sociedades atuais esperam. É uma espécie de padrão mundial vigente.
Entretanto, surge uma dúvida: até que ponto uma sociedade tem poderes para
estabelecer parâmetros de competência para seus cidadãos? Não seria uma forma
de “bitolamento” das pessoas, mantendo-as aprisionadas a cabrestos
virtuais (mas reais) para evitar que se sobressaiam das demais e, com isso, cheguem
a comprometer os padrões sociais estabelecidos não se sabe quando e por quem,
mesmo sabendo que esse “cabestreamento” subjuga inclusive aqueles que se
julgam seus idealizadores?
Com
base nos parâmetros da sociedade atual, é comum ouvir-se expressões que,
consciente ou inconscientemente, determinam posicionamentos de pessoas em
redutos que podem segregá-las do convívio que deveria ser natural para todos,
tais como: jovens com cabeça de criança, ou de velhos, em contraposição a
“jovens adequados à sua idade”. Adultos com cabeça de criança, ou de jovens,
quando não de velhos. Velhos com cabeça infantil, inadequados à sua idade. E
assim por diante.
Ora,
o que define a adequação à idade? Ou, o que é adequação à idade? A idade
cronológica deve mesmo determinar a idade real da pessoa (a cabeça da pessoa!)?
Rotular
pessoas é aprisioná-las, negando-lhes o direito de conduzir a própria vida e de
ser artífice de seus feitos.
Essa forma de amordaçar as pessoas equivale a
extorquir-lhes o direito de decidirem sobre seu próprio presente (já que o
futuro é incerto). E, com isso, é comum que a sociedade defina, mesmo que de
forma informal (mas real), quando o cidadão deve começar a trabalhar e quando
dever parar (é claro que deve ser salvaguardado o direito da criança e do jovem
à educação e de se desenvolver fisicamente antes de exigir-lhes compromisso
profissional). Existem exemplos em todos os países de cidadãos que empreenderam
e produziram grandes realizações a partir de idade cronológica que, segundo
padrões da sociedade em que se insere, deveriam parar e se entregar ao tédio,
ao nada, mediante a hipócrita insinuação de que é chegada a hora de descansar
(como se para descansar é necessariamente preciso dedicar-se ao nada).
Por
isso, entende-se que a hora de parar deva ser prerrogativa exclusiva de cada
pessoa, independentemente de padrões formais ou informais correntes em qualquer
sociedade. Portanto, mãos à obra!
(Publicado no JNB em setembro de 2014)