Muito se escreveu, e muito se escreverá ainda
sobre o tema “amizade”. Isso porque o assunto nunca se esgotará. Mais que uma
palavra, “amizade” é uma forma de vida, um jeito de ser e de viver.
Não importa a distância. Ou como se diz
habitualmente, a distância é o que menos conta. Ou também: a presença física
não é relevante.
São expressões que, de alguma forma, servem
para avaliar a solidez de uma amizade. E existe coerência, pois a amizade,
quando verdadeira, sólida, não resultado de momentos de impulsos, dispensa a
obrigatoriedade do contato físico (ou da presença como muitos preferem) para se
manter acesa. A chama da amizade se alimenta da realidade dos amigos, que supõe
honestidade, transparência e muito altruísmo. Anos de distância física não
exterminam uma amizade. Nem diminuem a sua intensidade. Também não a colocam em
dúvida. A amizade é para sempre.
Ora, se a amizade é para sempre, é óbvio que
os amigos também são para sempre. Quando os amigos se vão, desaparecem da nossa
vida, estão declarando formalmente que não eram amigos, mas apenas colegas,
companheiros de jornada, etc., que se uniram a nós por interesses pessoais (conscientes
ou inconscientes). Às vezes apenas sentiram necessidade de amparo e viram em
nós um ponto de apoio seguro, uma bengala, algo que lhes desse alento pontual,
mas que no primeiro momento de dificuldade, ou quando imaginaram que não teriam
mais necessidade, desapareceram. Outras vezes buscam amigos para auferir
privilégios, ou para obter vantagens pessoais. São os pseudo-amigos. Não diria
sequer que são falsos amigos, mas apenas supostos amigos. Essas pessoas
provavelmente nunca terão amigos, por que a todos tratarão dessa mesma maneira.
E quando perceberão, estarão sozinhos. E será tarde.
Os amigos são para sempre. Talvez seja por
isso que são poucos. A vida os seleciona e permanecem conosco apenas os amigos
de verdade. Os outros se vão. E apesar desse fato às vezes nos surpreender, ou
de nos deixar entristecidos, logo percebemos que não eram amigos e que foi bom
que tenham ido.
A amizade verdadeira nos dá a certeza de que
não andamos sozinhos, mesmo que pareça estarmos completamente desacompanhados.
A lembrança de nossos amigos atenua a nossa angústia, dando-nos a certeza que
estão sempre conosco em espírito e sempre torcendo muito por nós. E a recíproca
é verdadeira. Do contrário a amizade não subsistiria.
A lembrança da convivência passada, das
palavras trocadas, da certeza que tudo é recíproco ajuda a trilhar pela senda
segura. A amizade permite, mesmo na distância, viver momentos iguais com os
amigos, mesmo que de forma diferente. Permite renovar o normal a cada dia,
tornando-o diferente, inédito, mais aprazível. Essas atitudes modificam a nossa
vida no dia a dia. É o crescimento originado pela certeza de estar sempre
acompanhado, mesmo que a milhares de quilômetros de separação física,
permitindo o crescimento mútuo, homogêneo.
Quando se tem amigos, as contingências da
vida não passam de rotinas, podendo ser transpostas uma a uma, dia após dia,
com a coragem daqueles que sabem que a melhor de todas as vitórias é aquela em
que participam as pessoas mais queridas.
A amizade, no silencio dos momentos intensos
ou morosos de nossa vida, nos transforma lentamente tornando-nos diferentes, e
mais felizes.
(Publicado no JNB em abril de 2014)