Todas as pessoas nascem com limites. Alguns desses
limites permanecem por toda a vida. Outros são derrubados. Outros ampliados.
Outros surgirão com o passar dos dias. Limites de toda espécie.
A própria condição humana leva as pessoas a viverem
dentro de determinados limites, sejam materiais, físicos, espirituais,
psíquicos... Toda matéria é finita e limitada. E as pessoas são matéria (e
espírito!). Portanto, possuem limites.
Os limites físicos acompanham as pessoas desde a sua concepção
até enquanto existir uma única migalha de pó de seu corpo. A sua estatura, o
espaço que ocupa, a distância que pode alcançar, as obras que realiza, tudo
isso e muito mais compõe o rol dos seus limites. Céticos, muitos se atêm
exclusivamente à realidade que se lhes apresenta, e pautam a sua existência
sobre essa realidade finita, limitada aos seus contornos.
É comum observar pessoas completamente tomadas pelo
pessimismo e ouvi-las pronunciar constantemente expressões como: “não vai dar
certo, nunca deu”. “Comigo não funciona”. ”Seja o que Deus quiser”... Pautar-se
nessas condicionantes significa renunciar à vocação, inerente a todos, de se
superar a cada dia. São pessoas que não querem enxergar um pouco mais à frente.
Negam-se a considerar que alguma coisa pode ser mudada e dar certo. Não se dão
ao trabalho de compartilhar a ideia que aquilo que deu errado pode passar a ser
feito de forma diferente e obter resultados positivos.
Muitas pessoas teimam em se manter enclausuradas em
pequenos círculos que elas mesmas criaram. Condicionam o seu intelecto e o seu
espírito às mesmas limitações impostas à sua matéria. Têm preguiça de pensar e
esquecem que a inteligência e o espírito podem transpor os limites materiais e
andar muito além deles. A inteligência e o espírito podem ir muito além de onde
essas pessoas imaginam. Podem abrir os seus olhos e traçar novos rumos,
caminhos diferentes, mais abrangentes, mais realizadores. Os piores limites são
aqueles escolhidos pelas próprias pessoas. Esses realmente as aprisionam.
As pessoas foram criadas com a capacidade de se
movimentar. São diferentes das árvores que, apesar de frondosas e floridas, não
conseguem sair de seu lugar. As pessoas podem andar e possuem a inteligência
que lhes possibilita buscar alternativas tanto de direção quanto de distâncias
a atingir. A inteligência e o espírito, em sintonia com o corpo, formam uma
parceria indescritível. São capazes de se superar e alcançar distâncias não
imaginadas, e em velocidades inéditas.
O alcance do olhar normalmente é mais limitado do que
se possa perceber. Por isso, não é prudente buscar apenas àquilo que se
enxerga. O que está além, mesmo que pareça oculto, pode ser mais interessante.
O horizonte estendido diante dos olhos é apenas uma amostra minúscula da imensidão
de milhares de outros horizontes que o sucedem. É como se fosse o precursor de
infinitos outros horizontes que se enfileiram um após o outro, sem intervalos,
numa sequência harmoniosa e indivisível.
Contentar-se com o horizonte que se apresenta diante
dos olhos é o mesmo que aceitar passivamente os limites que as circunstâncias
insistem em impor. Ir além desse horizonte é buscar outros rumos, outras
sendas, outras vitórias, a realização pessoal. Não é bom viver como um lago
que, apesar de belo, permanece sempre contido dentro de seus limites, sem
chance de ultrapassá-los. Precisa ser como o mar, que além de belo e majestoso,
se estende infinitamente até além dos horizontes, muito distante do olhar.
Precisa
estender o olhar para além daquilo que os olhos oferecem.
(Publicado no JNB em outubro de 2015)