Era uma vez, uma vasta savana. Nela vivia um leão enorme chamado Gluto. Um dia ele se tornou rei. Ele usou de muitas artimanhas para ser o escolhido: prometeu que lutaria por justiça, pela liberdade de todos, pela prosperidade do seu povo e pela paz duradoura em seu reino. Como ele era persuasivo e convincente em suas palavras e afirmações, todos acreditaram em suas promessas. Após eleito, porém, não demorou muito para revelar quem ele realmente era. Esqueceu-se de suas promessas e priorizou alimentar a sua vaidade e se vingar daqueles que ousaram contrariá-lo um dia.
Gluto criava decretos e impunha leis para beneficiar os seus amigos, desviava sutilmente parte da colheita dos campos, retinha parcelas dos recursos destinados às pessoas menos favorecidas, cobrava dos animais tributos cada vez mais elevados, enquanto ele descansava à sombra de baobás, coberto de ouro, e se deleitava com fartos banquetes.
Um porco-espinho chamado Secuide, que um dia concorreu com Gluto pelo trono, precisou se esconder por longo tempo em outra floresta, porque o leão estava determinado a destruir a sua toca, a da sua família e as dos seus amigos. Houve outros moradores desse reino, como a coruja Atenta e o javali Virgílio, que viram suas vidas desmoronarem, não porque tenham cometido erros, mas porque ousaram discordar do rei.
Mas, sem que percebesse, Gluto estava se tornando refém de sua própria sede de vingança. Enquanto ficava planejando novos castigo aos seus desafetos, ele se esquecia de atividades essenciais, como proteger os animais dos inimigos, armazenar água para os períodos de estiagem, melhorar os acessos às trilhas das migrações sazonais, dentre muitas outras. Um dia, uma seca terrível atingiu a savana. Os animais estavam cansados e famintos. Então, foram até o rei Gluto para pedir ajuda. Mas o rei leão além de não atendê-los ordenou que se retirassem de imediato se não quisessem ser presos.
Então, numa certa manhã bem cedinho, antes do nascer do sol e em total silêncio, os animais partiram sem deixar qualquer dica ou vestígio de seu próximo destino. Um a um, abandonaram o reino de Gluto, deixando a savana vazia para ele.
Gluto percebeu que estava só, sem ninguém para perseguir ou para explorar. Cego de raiva, começou a vagar pela savana seca e vazia, uivando com todas suas forças tentando vingar-se de tudo e de todos, mas já não tinha nenhum alvo para atingir.