A gente
descobre o valor das coisas quando elas
faltam.
Quem sente fome
entende perfeitamente o valor dos alimentos. O mesmo pode-se dizer da relação
entre a água e a sede.
O princípio é
aplicável, também, às pessoas, aos colegas, aos amigos. Passamos a maior
parte do nosso dia e de nossa vida ao lado de pessoas. E às vezes nem as
percebemos. Porque não lhes damos o devido valor. Apenas passam por nós, e as
ignoramos (de forma consciente ou não).
Basta estar sozinhos
para sentir a sua falta, descobrir o seu valor, a importância da sua
presença (física ou espiritual). Percebe-se o tanto que elas representam para
nós, o tanto que elas são importantes para nós. E descobre-se o quanto não
sabemos valorizá-las.
Não somos
eternos. As pessoas não são eternas. São passageiras, viageiras, caminheiras
rumando para algum lugar. Podemos segui-las, ou não. Elas podem nos seguir, ou
não. É uma questão de atitude, é opção de cada um. Mas existe uma verdade: não
estarão ao nosso lado para sempre. Nem nós ao lado delas.
Pessoas
queridas passam pela nossa vida, somam, fazem a diferença, e se vão. Às vezes
não tivemos a oportunidade, ou a coragem, ou a consideração de dizer-lhes
quanto são e serão importantes para nós. Existem pessoas que conseguem fazê-lo
até com naturalidade. A vida lhes ensinou a viver assim. São diferentes,
privilegiadas, que conseguem ver nos outros partes de si mesmas, complementos
de si, de sua vida. Pessoas que edificam a sua existência, dia após dia,
baseando-se no valor da amizade e do amor.
Pessoas passam
despercebidas pela nossa vida. Outras marcam-nos profundamente. Porque
conseguem entrar no nosso coração e gravar nele o seu nome. Essas jamais serão
esquecidas, porque o nome escrito no coração é indelével. Não se apaga. É
eterno. São os amigos, as amigas que prezamos de verdade.
Nós também
passamos pela vida de muitas pessoas. Em quantas permanecemos? Quantas se
lembrarão de nós? Apenas aquelas em cujo coração deixamos gravado o nosso nome.
Muitas pessoas
passaram pela nossa vida e delas sequer lembramos da fisionomia, da idade, do
nome (se tinham nome!), enfim, não lembramos de nada delas. Ou, quem sabe, não
lembramos sequer que passaram por nós. Ou lembramos apenas vagamente, devido a
algum episódio que gerou uma lembrança na memória. E só.
Mas de muitas
lembramos com detalhes: são aquelas que deixaram sua marca em nossa vida. Ou em
momentos dela. Seus nomes estão gravados em nós para sempre. São pessoas que
ofereceram, mereceram e receberam nossa amizade. Algumas do tempo da infância.
Outras mais recentes. Em todas as fases da vida pessoas foram importantes (e
continuam sendo).
São as pessoas
que amamos. São amigos. Confiaram em nós. Confiamos neles. Passaram a fazer parte da
nossa vida. Estão sempre presentes, mesmo que distantes há muitos anos. Porque
amigos são como irmãos: a gente não escolhe. Eles aparecem, se instalam em nós
e permanecem. E nos fazem bem.
Um aperto de
mão, um olhar de aprovação, de desaprovação. Um sorriso. Um estímulo. A simples
presença, ou a distância às vezes. A certeza de estar sendo apoiado sempre.
Esse é um amigo. Este gravou o seu nome no coração. Será sempre um amigo. Será
sempre alguém muito especial.
Amigo que nos
aceita como somos, sem exigir que mudemos, que sejamos diferentes, que os
imitemos, que sejamos como ele. Que vivamos de acordo com o seu estilo, com
seus gostos, o seu jeito de viver. Que se adaptou ao nosso jeito de ser. Que
não pediu nada em troca, porque sabia que receberia reciprocidade na mesma
proporção ou, quem sabe, em escala ainda maior.
Amigo está
sempre presente. Sabe entender nossos momentos de azedume, de falta de lucidez.
Confia em nós.
Apoia-nos nos momentos em que mais precisamos. Antecipa-se à
nossa necessidade. Quando dele precisamos, ele já está presente, mesmo que
às vezes o ignoremos, ou não lhe dediquemos a consideração devida, porque
naquele momento não estamos carentes de sua ajuda e de sua companhia.
É importante
valorizar as pessoas que nos querem, nossos amigos, porque são e serão sempre
especiais. Se deixarmos que passem por nós despercebidos farão falta amanhã. E
será tarde. E quando fica tarde, já houve a perda.
Na vida existem
ganhos e perdas. Algumas perdas são irrecuperáveis, irreparáveis, das quais nos
arrependemos, e de que nos deixam chateados. Pessoas especiais que não
valorizamos. Ou pior, que as descartamos antes mesmo de dar-lhes (e de dar-nos)
uma oportunidade. E isso nos entristece, porque percebemos que fomos os únicos
culpados por tal perda.
É muito
importante valorizar o que não se perdeu, o que se conquistou, o que se poderá
conquistar no futuro, e aprender a não perder o que não deve ser perdido.
(Texto publicado no JNB em junho de 2012)
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