Tenho pena de você , disse uma vez a lebre à tartaruga, obrigada a andar
com a tua casa às costas, não podes passear, correr, brincar, e livrar-te de
teus inimigos.
Guarda para ti a tua compaixão, disse a tartaruga. Pesada como sou, e tu
ligeira como te gabas de ser, apostemos que eu chego primeiro do que tu a
qualquer meta que nos proponhamos a alcançar.
Tá feito, disse a lebre: só pela graça aceito a aposta.
Ajustada a meta, pôs-se a tartaruga a caminho; a lebre que a via,
pesada, ir remando em seco, ria-se como uma perdida; e pôs-se a saltar, a
divertir-se; e a tartaruga ia se adiantando.
Olá! camarada, disse-lhe a lebre, não te canses assim! Que galope é
esse? Olha que eu vou dormir um pouquinho.
E se bem o disse, melhor o fez; para escarnecer da tartaruga, deitou-se,
e fingiu dormir, dizendo: sempre hei de chegar a tempo. Porém, acabou dormindo
e quando acordou percebeu que já era tarde. A tartaruga havia cruzado a meta, e
vencedora lhe retribuía os seus deboches:
(Fábula de Esopo)
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