segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

AINDA HÁ TEMPO


No vai-e-vem da vida, a vida vai-e-vem, vem-e-vai...

Nessa loucura, às vezes o homem se esquece de sua condição humana, feita de carne e de ossos, mas também de inteligência, de amor e de sentimentos. Feito uma máquina estruturada e configurada para funcionar com perfeição, de repente passa a apresentar defeitos, desvios, avarias, desgastes.

A sobrecarga de informações materialistas com que é bombardeado e que assimila no dia a dia o direciona e o condiciona a buscar mais e mais coisas, sem se preocupar de intercalá-las com algo que lhe agregue valor e edifique o seu interior.

A educação singela recebida nos longínquos dias no regaço materno, a qual destacava a importância dos sentimentos, da amizade, da solidariedade, de que a pessoa é o que ela é, e não o que ela possui, aos poucos é substituída pela busca obstinada, doentia de bens e posições efêmeras.

Aquele coração cultivado com todo o carinho e enriquecido de boas intenções, de sonhos, de sentimentos, esvazia-se pouco a pouco, dando lugar, mesmo sem perceber, a um amontoado de materialidades vazias.

Passados os anos, dono de muitas coisas, mas de coração vazio, o homem percebe que correu o tempo todo ao redor de si mesmo, perseguindo a sua própria sombra (ou será que era o seu rabo?!) e quando imaginou ter alcançado os seus objetivos, sentiu-se só, distante, desfigurado e... não se reconheceu. Percebeu que as riquezas que amealhou não são suficientes para torná-lo feliz.

Percebeu que consumiu muito da sua preciosa vida à toa, à procura de bens e de posições que não eram essenciais para a sua felicidade. Coisas importantes sim, que poderiam ajudar a tornar a sua vida mais fácil, mais confortável, mas não eram a essência da sua vida.

E nessa encruzilhada deverá decidir: continuar a correr sem rumo e desgovernado, ou parar, refletir e retomar o caminho da verdadeira felicidade, mesmo que signifique retornar e abandonar conceitos até então tidos como imprescindíveis, irremovíveis e absolutamente necessários para a sua vida, e passar a se enriquecer de simplicidade, de tudo o que é singelo, resgatando o relacionamento fraternal com as pessoas que, de repente, percebe que convivem com ele.

Pode, às vezes, parecer tarde para recomeçar. Definitivamente não é. Sempre é tempo de retornar... de recomeçar... de ser feliz...

(Publicado no JNB em fevereiro de 2012)

2 comentários:

  1. Cada vez mais vejo como Charles Chaplin percebeu isso e sintetizou isso am algumas cenas de um filme seu o qual não lembro o nome onde ele próprio aperta parafusos automaticamente e em outra cena ele se atrapalha tanto que acaba sendo puxado para o meio de duas engrenagens. A padronização acaba aniquilando a individualidade. Sábio Charles Chaplin!

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    1. O filme se chama "Tempos Modernos". Um clássico. É a pura verdade. Você sacou legal. Não tinha pensado nisso.
      Valeu.

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