sábado, 27 de novembro de 2021

O coveiro e o bêbado (fábula de Milor Fernandes)

Ele cavou, cavou, pois sua profissão – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado.

A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais do mato. Só pouco depois da meia-noite é que sentiu uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os "passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: “O que é que há”?

 O coveiro então gritou desesperado: “Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível”. – “Mas, coitado”, – condoeu-se o bêbado. – “Tem toda a razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho”. E, pegando a pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.

Moral: Nos momentos graves é preciso ter cuidado a quem pedir ajuda.

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