Perdoar não é esquecer.
É apenas decidir que nada devemos ao passado.
Dia 01.11.1949 completo 76 anos. Não celebro apenas a passagem do tempo. Celebro uma linda caminhada. Celebro a mão de Deus guiando meus passos, o amor que encontrei no caminho, as lutas que me forjaram e as alegrias que me alimentaram.
76
anos não é apenas um número. É a soma de muitas histórias. Algumas suaves como a
brisa do amanhecer, outras duras como rocha, mas todas necessárias para
que eu me tornasse quem eu sou. Aprendi com a vida que o que importa e
permanece não é o que acumulamos, mas o que deixamos nos outros: um gesto de
bondade, uma palavra que levanta, um ombro amigo, um exemplo silencioso.
Tenho
a alegria de dizer que a vida valeu a pena, e continua valendo, porque amei,
porque fui amado, porque plantei, porque colhi, porque errei e recomecei,
porque não deixei de caminhar mesmo quando os pés doíam ao pisar, descalços, o
chão inóspito e espinhoso.
Hoje, o balanço que faço não se pauta em saudosismo, mas em gratidão. Agradeço a Deus que nunca me deixou desamparado. Agradeço à minha linda família que deu sentido a tantas batalhas. Agradeço aos amigos, aos que ficaram e aos que passaram, porque cada encontro deixa uma marca.
Não se pode esquecer que o medo é só o medo.
Ele nunca o obriga a tomar qualquer ação.
A gente é que escolhe.
Mas, não se pode esquecer que o medo nunca conduz ninguém ao topo.
Todos sabem que, como grandes amigos, rios e vales trabalham em parceria desde os primórdios. Há uma cumplicidade muito forte entre eles. É um pacto silencioso que atravessa séculos, milênios...
O rio é um sonhador, um aventureiro: como principal função escolheu correr, ora lenta, ora violentamente. Rasgando longas distâncias ele distribui suas águas pela natureza afora, abastecendo reservatórios, populações de todas as proporções.
Já o vale escolheu outra missão: ser paciente e acolhedor. Juntos, rios e vales, desenharam os contornos do mundo começando nos primeiros tempos, e continuando a atualizá-los até nossos dias.
Quando as nuvens descarregam suas águas abundantes sobre as montanhas, os vales as acolhem com os braços estendidos e as conduz rumo ao seu próximo destino: o rio. O rio as recebe e as incorpora ao seu leito, e segue em diante. Serpenteia, canta (ruge às vezes), ora lento, ora mais destemido (ou até feroz). Existem momentos em que vai além de seu leito original, transbordando e invadindo com todo entusiasmo o espaço do vale.
O vale, ao invés de reclamar pela invasão temporária do rio, o acomoda ternamente, pois conhece o gênio de seu amigo, e o mantém abraçado fortemente.
Essa parceria provoca transformação por onde o rio passa: no lugar onde havia pedras fica depositada areia, onde o rio descansa são despejados sedimentos que promovem a fertilidade da terra. Essa parceria faz os vales florescerem e alimentarem muitas vidas.
Era uma vez...
Lá no alto do céu, o Sol brilhava majestoso, e uma Nuvem fofinha sorria feliz enquanto distribuía pequenas sombras refrescantes. Os dois permaneciam bem no alto, um ao lado do outro, e passavam os dias observando a vida na terra. Tinham um olhar especial para as crianças que brincavam nos campos, e para as plantinhas que cresciam nos jardins.
O Sol vivia espalhando luz
e calor. Ele ajudava as flores a se abrirem, amadurecia os frutos e enchia os
corações das pessoas de alegria.
- Olá, mundo, dizia o Sol
todas as manhãs, com um sorriso iluminado. Vou mandar para vocês um dia cheio
de luz e de energia.
Mas, às vezes, o calor
era tanto que as plantas ficavam cansadas, os rios começavam a secar e até os
bichinhos procuravam a sombra.
Foi então que a Nuvem,
suave como uma bola de algodão, chegou com uma ideia:
- Amigo Sol, você toparia
trabalhar junto comigo, em parceria? Assim, quando você brilhar demais, eu
venho e trago um pouco de sombra e chuva fresquinha. Desse jeito, tudo fica
equilibrado.
O Sol pensou por uns
instantes, achou a ideia brilhante e respondeu:
- Gostei da ideia. Maravilha. Vamos formar uma equipe.
E assim fizeram. Quando o
dia estava muito quente, a Nuvem passava devagar e deixava gotas de água
caírem, refrescando tudo. Às vezes, ela se esticava como um cobertor e deixava
o céu nublado por um tempo, enquanto o Sol descansava atrás dela.
Os benefícios dessa
parceria apareceram rapidamente, porque não houve mais excessos, e tudo ficou
muito melhor, inclusive a qualidade de vida. As árvores dançavam suavemente, os
riachos cantarolavam felizes e as crianças se divertiam pulando nas poças
d’água.
A partir daquele dia, o Sol
e a Nuvem se tornaram grandes amigos e essa amizade crescia cada vez mais e eles
nunca mais trabalharam sozinhos. Descobriram que quando existe união e todos
decidem se ajudar, tudo fica mais fácil e muito melhor.
E no céu, até hoje, se vê o Sol e a Nuvem em perfeita harmonia, cuidando do mundo com luz, sombra, chuva e carinho.
Em outros tempos...
Numa antiga e próspera fazenda, um boi e um
cavalo pastavam juntos quando, de repente, começaram a discutir sobre qual dos
dois era mais importante para o fazendeiro.
- Claro que sou eu, ponderou o boi, com voz firme: eu proporciono a carne para alimentar a família. E enquanto isso não acontece, puxo o arado para cultivar os campos.
O cavalo bateu os cascos no chão e respondeu prontamente:
- Sou eu, sem dúvidas. Eu transporto mercadorias e pessoas de um lugar para outro. Sou o símbolo de força e coragem! Sem mim, muitos ficariam em seus lugares, sem conhecer o mundo.
O boi balançou a cabeça, contrariado:
- Veja bem, cavalo. tu és veloz, mas não trabalhas todos os dias como eu.
Nervoso o cavalo relinchou, balançou o pescoço e respondeu:
- E de que adiantaria tanto alimento plantado e colhido, se não pudesse ser carregado para outros mercados? Sem mim, os grãos ficariam parados, sem comércio, sem chegar às mesas.
O dono da fazenda ouviu a discussão dos dois e interveio:
- Meus bons amigos, não há motivo para brigarem. Cada um tem sua função. O boi é a força que sustenta a lavoura, e o cavalo é a velocidade que transporta os alimentos. Um completa o outro. Sem o trabalho de vocês dois, a vida do homem seria bem mais difícil.
O boi e o cavalo se olharam em silêncio e
concordaram. Descobriram que a grandeza não está em ser mais útil que o outro,
mas em reconhecer que cada ser tem seu próprio papel no mundo.
Reflexão: A verdadeira sabedoria está em reconhecer que ninguém é superior, apenas diferente em sua utilidade.